segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Cinza de Fuligem

Cinza de Fuligem

Certa vez conheci uma senhora,
Que morava no interior,
A chamavam de “Branca de Neve”,
Não tinha nada de muito valor.

Uma casinha no campo,
Um jardim florido,
Canto calmo longe do perigo.

Numa tarde seca e quente,
Lhe pedi um copo d’água
Em frente à seu casebre,
Espontaneamente me contou
Sobre suas jornadas,

Sem tartarugas ou lebres.
Apenas um conto sem fadas.
As ilustrações não eram leves
E as indagações tão pouco breves.

Seu apelido era uma piada, sua cor era parda,
Mas “Branca de Neve” já estava acostumada,
Pois desde jovenzinha tinha sido discriminada.

Ao nascer prematura foi abandonada,
Criada na favela da “Maça Envenenada”.
Filha de uma mãe e vários pais,
Que tinham outros filhos em diversos cais,
A história se fazia, corrida diária,
Aquela sobrevida na zona portuária.

“Branca de Neve”, “Cinza de Fuligem”,
Na “Floresta de Concreto” resistiu à sua origem.

Foi adotada por uma bruxa,
Acorrentada no porão pela madrasta,
Era espancada, levou muita “bucha”,
Se viu acurralada e deu uma basta.

Fugiu numa noite gélida,
Logo caiu nas “poções encantadas”,
Não imaginou as ruas tão violentas,
Mais uma usuária viciada.

- Branca me deve sete prestações,
Em notas trocadas e sem marcações.

Para pagar o sujo cafetão,
Foi enviada ao “Castelo da Morte”,
Forçada a entrar nessa perdição,
Prostíbulo de luxo na zona norte.

A sorte azarada estava lançada,
E a “Branca de Neve” caiu num “sono profundo”,
À facção foi incorporada,
Regada à crack num antro imundo.

“Branca de Neve”, “Cinza de Fuligem”,
Na “Floresta de Concreto” resistiu à sua origem.

A pobre menina carente,
Viveria Infeliz para sempre,
Se não fosse por um nobre alfaiate,
Que achara um sapato de cristal.

Garimpou por toda parte,
Imaginando uma beleza colossal.
Ele não fomentou sua longa empreitada,
Mas trombou com Branquinha,
Numa noite estrelada.

Entre o castelo e o mirante,
Um conto triste teve um desfecho brilhante.
Mesmo depois de tanta tristeza,
Ela encontrou um “Príncipe” que a chamou de “Princesa”.

“Branca de Neve”, “Cinza de Fuligem”,
Na “Floresta de Concreto” finais felizes também existem.

Finais Felizes também existem.

(Compositor: Michel F.M.) © 2008

18 comentários:

Gisa disse...

Contos de fadas, com ou sem fadas, ainda existem nas florestas de concreto.
Lindo texto
Um bj

Mar Arável disse...

Branco no branco

com palavras vulcânicas
desgrenhadas

Anônimo disse...

Michel
Estou indicando você e o seu blog para receber o Prêmio Dardos! Vim convidá-la para retirar no Visões de Um Ser... se você gostou de receber o selo ele estará a sua disposição lá no meu espaço, com muito carinho...
Beijos.

Dalva M. Ferreira disse...

Que bom... pena que os finais felizes sejam meio raros. Tadinha.

Cinzia Procopio disse...

Hola Michel, me gustó mucho, sobre todo la frase final: los finales felices también existen.
Recibe un saludo

Anônimo disse...

Belo texto. Uma pena que hoje em dia é bem difícil de se ver finais felizes, são raros, mas acontecem!
Faz tempo que não venho aqui... senti falta. O blog ta otimo.
Me visite quando puder, ta? bjs

vipassanacbr disse...

Um conto que de fadas não tem nada. Mas todos nós merecemos um final feliz!

Bjs

Janaina Cruz disse...

Olá Michel, andando pela net encontrei o teu blog, me deparei com palavras muito bem elaboradas e belas.
O post mais recente trata de uma mistura entre os contos e fadas e a vida real.
É bom perceber que é possível encontrar felicidade, sem ajuda de fadas artificiais.
É a vida real sendo mais interessante que a ficção...

Sigo-te, estimo final de semana e abraços.

Anônimo disse...

Convido a participar no meu blog ;)
Um beijo,
Maria.

Winderson Marques disse...

Excelente texto... Estilo único, um verdadeiro artista, parabéns pelo talento. Estarei acompanhando o blog

JU disse...

Parabéns pelo blog, pelas palavras...achei "simplesmente" fantástico!

Mariana Sugahara disse...

Olá Michel,
Sou moderadora do Arautomania... Recentemente você lançou um livro e já tinha outro né?
Então gostaria de fazer um entrevista com vc.
Topa? Via e-mail mesmo.

Aguardo sua resposta.
Ah, parabens pelo seu trabalho!!

Daniela Dias Ortega disse...

Nossa Michel!
Esse poema meche com a gente...

guímel disse...

Profundo, trouxe o conto para a realidade ( o mito se fez rito).
Acredito em sonhos que possam materializar-se, através da vontade e desejo.
Lindo!

Bjsss

Mafalda disse...

Gostei*

Dja disse...

ola michel, lindo texto, final feliz existe sim, mesmo pq tadinha da "Branca de neve" depois de tanto sofer, merecia finalmente ser feliz, bjinhoss, adorei seu blog. se cuida. se me permite ja te sigo. abraços pertadinhos.

Eliane Furtado disse...

Finais felizes também existem. Frase boa!

Graça Pereira disse...

Passei para desejar um Feliz Natal e um Ano Novo muito prometedor.
Beijocas
Graça

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