sábado, 15 de dezembro de 2007

Os Caipiras Urbanos

[Introdução]
(Seminário apresentado em dezembro de 2007)


Dentro do sistema no qual vivemos as prioridades são mercadológicas, econômicas e políticas. Graças a isso nossa sociedade possui algumas características marcantes como as diferenças de classe social, o preconceito e a discriminação por causa das diferenças, a subversão dos valores, entre outras coisas. E devido a esses fatores associados aos meios de comunicação surgem os estereótipos e se prolifera a visão dualista.
No entanto sabemos que muitos grupos culturais mantêm seus valores, independente das influências e pressões que sofrem da mídia. Porque suas raízes são muito mais profundas do que a superficialidade capitalista. E a questão é encontrar essas raízes.
Todavia se analisarmos não de forma panorâmica a sociedade e a cultura, mas sim direcionando nosso foco especificamente a um grupo cultural e seus indivíduos, nos concentrando no comportamento desse sujeito será possível identificar seus valores e saberemos dessa forma qual é sua verdadeira identidade.

Os Caipiras Urbanos

Artigo de: Michel F.M.


A evolução cria os problemas para depois encontrar a solução, tem sido assim desde a pré-história, mesmo antes da escrita, da agricultura, das construções, da energia elétrica, dos meios de comunicação. E hoje em dia algumas pessoas insistem em proclamar a mídia como um mal necessário da sociedade pós-moderna, algumas ainda condenam a tecnologia como sendo a causa dos problemas. No entanto a história prova o contrário, o universo surgiu do caos segundo os cientistas e só depois retornou a calmaria e tem sido assim, do início dos tempos pra cá. O tempo foi dividido entre antes e depois de Cristo, devido a sua grandiosa importância histórica. Já os estudiosos de comunicação, fizeram uma divisão imaginária do tempo, antes e depois dos “Meios”.
Antes dos meios de comunicação existiam as pessoas, sujeitos de sua própria vida, com seus valores, crenças e cultura. Depois dos meios de comunicação continuam existindo essas pessoas, indivíduos capazes de fazer escolhas, providos de raciocínio e com a incrível habilidade de evoluir. Porque o maior dom do ser humano é a mudança, a transformação, a adaptação.
Dentro dessa lógica partimos para o nosso tema, o caipira urbano. Caipira, sujeito humilde, simples de tudo, trabalhador, com pouco estudo, crente em Deus, respeita a natureza e prefere tudo o que seja saudável e venha da terra. Esse é o caipira? Sim é. Porém essas características passam a ser transformadas em estereótipo no momento em que chegam à mídia e são disseminadas de forma distorcida, como caricaturas cômicas presentes no interior. Poderíamos analisar muitos exemplos disso nos meios de comunicação, como o “Jeca Tatu”, o “Nerso da Capitinga”, a “Filó” entre outros personagens engraçados que acentuam algumas poucas características do caipira. Ainda na televisão encontramos exemplos que são mais próximos da realidade, programas que valorizam a imagem do caipira e demonstram de maneira mais verdadeira sua identidade atual, espaços como “Viola minha viola” que há anos está no ar e mostra o lado mais rico da cultura caipira.
Atualmente um “reality show” intitulado “Simple Life” faz exatamente o inverso do que outros programas, que satirizam o interior. Esse programa aborda a vida de duas “patricinhas” da metrópole, que vão para o interior e não conseguem desempenhar nenhuma tarefa rural, por estas serem obrigações difíceis e exigirem conhecimento e habilidades específicas. Esse programa representa a vida no interior como ela realmente é, com suas dificuldades, alegrias e recompensas.
Para quem não conhece o caipira e nunca esteve no interior, todas essas representações podem “parecer” reais, no entanto, é inaceitável que essas representações sejam consideradas cem por cento reais. Porque nenhuma delas é totalmente verdadeira, todas partem de pressupostos, e algumas características que são de fato corretas.
A verdade menos contestável é que todos nós moradores do interior do estado de São Paulo, na região que abrange as cidades de Sorocaba, Jundiaí, Piracicaba, Campinas (Campinas sim!), Salto, Indaiatuba entre outras, todos somos caipiras e temos devido a nossa descendência interiorana carta branca para falar sobre nossos valores, costumes, cultura e crenças. Alguns de nós nasceram no sítio, em meio a agricultura; outros nasceram na cidade, mas com o costume de acordar junto com a alvorada, ir trabalhar, almoçar antes do meio dia, jantar às seis da tarde e ir deitar com o pôr-do-sol, para no outro dia repetir essa rotina e aos domingos quem sabe ir a missa e depois passear pela quermesse, tudo isso dentro da cidade, tem coisa mais caipira e maravilhosa do que essa? Sem falar naquele jovem que ajuda o pai na lavoura a semana inteira e no final de semana põem sua melhor roupa comprada no shopping e seu tênis de marca comprado com o dinheiro da plantação e vai para a “balada”, curtir a noite de sábado com os amigos. Esse garoto não é caipira? É. Tanto quanto aquele que faz faculdade, aprende conhecimentos sobre o mundo, trabalha em uma grande empresa, faz academia, pensa em fazer uma aula de idiomas porque em informática já é craque, e no almoço de domingo come polenta com pato, (abatido, diga-se de passagem, no fundo do quintal) junto com legumes colhidos na pequena horta de seu pai e depois do almoço, senta na varanda de casa para ouvir música de raiz, com a família reunida, então começam a contar os “causos” de antigamente e os olhos de seu avô brilham falando da época em que não tinha TV, mas as crianças nadavam no rio.
Todas estas pessoas são caipiras, todos nós somos caipiras. Porque produtos industrializados não dissolvem nossa cultura do interior (por mais que tentem), uma rotina estressante não destrói nossos valores e nada em nossa sociedade tem o poder de sufocar nossas raízes, porque elas são muito mais profundas do que qualquer superficialidade mercadológica, econômica e política.


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